Porquê?

Corremos porque não temos asas para voar...

18ª Meia Maratona Manuela Machado - Viana do Castelo 2016

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Área de serviço da Galp perto de Viana. Estacionámos o carro e entramos decididos na cafetaria, impelidos pela forte motivação que a baixa temperatura do exterior nos transmitia. Em pouco tempo estávamos abastecidos, o Miguel com uma sandes de presunto e queijo que necessitava das duas mãos e um leite com chocolate para empurrar, eu com um anafado croissant recheado com queijo e fiambre e meia de leite com bastante café. Devorada a coisa, com um pouco de conversa á mistura, fizemos o resto da viagem atá Viana. Como sempre acontece, enfrentámos alguma indecisão na escolha do local para estacionamento da viatura, mas desta vez escolhemos bem. Optámos pelo estacionamento pago num parque coberto, decisão que (ainda não sabíamos) se viria a revelar uma mais-valia. A atravessar uma fase em que não tem sido possível conciliar os treinos com a vida profissional e familiar e onde as pequenas janelas horárias disponíveis para treinar são dedicadas a treino específico para provas de trail, ambos tínhamos consciência de que o trabalho de casa para enfrentar esta meia maratona não estava feito. Alinhamos na meta como quase sempre, sem uma preparação cuidada mas sempre com a fasquia alta naquilo que são os nossos objectivos para a prova. Tenho sempre o cuidado de nos auto atribuir a avaliação de corredores ocasionais e, nestes meses de inverno, a impossibilidade de dedicar tempo a essa actividade torna essa conotação ainda mais verídica.

Arranque da prova
Enfim, seja como for, inscrevemo-nos nas provas e no dia certo lá estamos, faça chuva ou faça sol, sendo que esta meia maratona Manuela Machado decorreu sob o signo do frio e da chuva, ainda mais intensa no final. Depois do primeiro quilómetro consultei o gps e verifiquei que estava num ritmo de 5:10/km, simpático pensei, será que sou capaz de manter? Foi a dúvida que se instalou. A respiração estava ofegante embora as pernas não acusassem o ritmo, vou dar mais um tempo para ver se estabilizo. Cerca dos três km de corrida é o ponto em que normalmente entro em ritmo de cruzeiro, desta vez não foi diferente, estava já com a respiração normalizada e o ritmo instantâneo estava a oscilar entre os 5:00 e os 5:19, sempre que surgiam inclinações não me preocupava em baixar para os 5:26, antes assim do que forçar e não ter pernas para o final. O Miguel estava bastante mais forte e lentamente foi desaparecendo do meu radar. Por vezes esperava por mim e surpreendia-me com o seu grito de guerra: “Então moço?”. Aconteceu assim aos 15 quilómetros e até me assustei, tão concentrado que ia no ritmo, nas dificuldades, no pé que não parava de me doer… que nem me apercebi que estava ali. “Cá vou”… respondi, com a mesma convicção de um condenado. Caminhei 15 segundos para beber cerca de metade dos 33 cl da garrafa de água e arranquei outra vez. Fiz esta operação 3 vezes e sempre que arrancava o pé parecia que me queria obrigar a parar. Nestas alturas procurava ignorar a dor e ia variando a posição do pé no ataque ao solo, por vezes parecia doer menos e era um consolo, pronto já podia voltar a concentrar-me no ritmo. Nesta luta nem me apercebi de ter passado o quilómetro 16 e fiquei surpreendido por ver a indicação dos 17. Quando passei pela placa olhei de soslaio para ela e pensei: “só faltam quatro e uns pós”.

Medalha de recordação de mais uma prova superada
O Miguel, mais uma vez, esperou para se inteirar da minha condição e começou a correr ao meu lado, percebi de imediato que a minha tendência era seguir o ritmo dele, mas não tinha força para isso, esse factor criava um desequilíbrio na minha concentração, pedi que se adiantasse cinco ou seis metros para tentar fazer uma “navegação á vista” mas cem metros depois já quase não o via. No último quilómetro já sentia de vez em quando o arrastar da sapatilha e cada metro era uma luta interior intensa. Quando entrei na passadeira vermelha da meta levantei a cabeça e naqueles 50 metros consumi os últimos “vapores” de energia que me restavam. Acabei num tempo digno para os meus padrões e muito melhor do que pensara ser possível á partida. O Miguel recebeu-me com palmas e chocámos as mãos. Estava feito… e bem feito. No meu caso, os 21,360 km foram cobertos em 01:54:45, o Miguel, se não esperasse por mim, se calhar baixava da 01:50:00.

Fase da corrida.
A espera provocada pelo pequeno engarrafamento de atletas no final foi difícil de suportar, á brisa
gelada juntara-se uma chuva grossa, não muito intensa mas ainda mais fria. Recolhemos a medalha de finisher e o saco que nos estenderam. Eu tinha um "andar novo" e vencer a distância até ao parque foi um desafio. Quando entramos no parque coberto, a diferença de temperatura e a ausência de chuva foi uma sensação de conforto idêntica a entrar numa sala de estar, bendita a hora que estacionámos ali o carro. Pudemos trocar a roupa e o calçado molhados por outros secos e confortáveis. Vamos para o Porto, a família espera-nos para o almoço. Haverá melhores sensações do que estas?

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